O NOSSO TEMPO E O TEMPO DO BEBÊ

Por Ana Maria Bastos Fonte

TCC O Tempo de Bebê
O NOSSO TEMPO E O TEMPO DO BEBÊ

Ao longo dos últimos anos, a infância tem se tornado uma corrida rumo
à perfeição e mesmo antes do bebê nascer, normalmente, os pais já
planejam seu futuro, mesmo que de maneira inconsciente, traçando metas e
expectativas.
Levando em conta a história e o repertório pessoal dos futuros pais,
eles fantasiam como será seu bebê, e as relações que se estabelecerão;
muitas vezes idealizam como será o exercício da maternidade e da
paternidade. Aliado a isso, os pais se deparam com o modo como se vê e se
cuida do bebê na época em que vivem.
Que os pais desejem coisas para seu bebê é essencial para sua
constituição psíquica, no entanto, é também fundamental que suportem que
essas expectativas não sejam atingidas, que seus bebês não sejam
exatamente como sonhados, imaginados.
Pois senão corre-se o risco de se passar por cima do que as crianças
querem e precisam ter contato; experiências que façam sentido a elas no seu
tempo espaço particular.
Na atualidade, a preocupação excessiva com o desempenho infantil
em um mundo cada vez mais competitivo e tecnológico pode influenciar as
relações da família comprometendo algo muito importante: o tempo.
O tempo e o espaço que cada bebê, individualmente, necessita na
aquisição de competências nas dimensões de desenvolvimento
principalmente motora e cognitiva.
Os pais, geralmente, muito bem intencionados, almejam o melhor para
seus filhos e, neste intuito, tentam “acelerar” o processo de desenvolvimento
infantil, como se fosse uma corrida. Não que seja uma característica somente
da atualidade, pois é sabido que na Europa Medieval já se usava cordas e
molduras de madeira para encorajar os bebês a andarem mais cedo.
Mas, hoje em dia, há uma pressão maior na obtenção de vantagens
dessa fase inicial de construção do cérebro dos bebês, que pode ser
explicada por um conhecimento maior da neurociência, além de um aumento

dessa demanda, especialmente no âmbito da Primeira Infância. Será que
quanto mais rápido, melhor?
Devemos à neurociência – o estudo do funcionamento do sistema
nervoso – grandes avanços e a ênfase nas oportunidades de intervenções
precoces com ganhos inimagináveis em situações aonde tratamentos se
beneficiam da plasticidade cerebral, trazendo resultados muito positivos.
Mas, minha questão é: Será que estamos fazendo uso desses
conhecimentos científicos da melhor maneira?
Criar filhos sempre foi uma tarefa complexa, desafiadora, mas hoje,
com expectativas tão altas, a carga gerada aos pais que almejam ser
perfeitos pode ser exaustiva e tornar o exercício da parentalidade uma
verdadeira maratona.
Uma explicação comumente ouvida é que a competividade do mundo
atual faz com que as crianças precisem desenvolver habilidades para se
preparar desde cedo para enfrentar o futuro.
Com isso, surgem práticas que podem privar os bebês e as crianças
pequenas de participar ativamente de um percurso fundamental no seu
processo de desenvolvimento. A criança pequena se apropria do mundo
através de experiências sensoriais e interações com pessoas vinculadas a
ela. Para aprender uma determinada língua, por exemplo, não basta colocar
à disposição um iPad repetindo palavras em outra língua, mas só a presença
do outro interagindo, um outro que não seja qualquer para o bebê, quer dizer,
com quem o bebê tem uma relação, falando em outro idioma é que pode
promover esse aprendizado. Quando pensamos em hiperestimulação,
partimos do pressuposto que bebês são passivos e impotentes.
Por meio dos encontros que tenho mediado em espaços de educação
formal e não formal entre adultos (pais, mães e avós) e bebês, tenho
observado o impulso e urgência, por parte dos adultos, de acelerar os
estágios do processo de desenvolvimento infantil.
A ideia é que esse adulto cuidador se conecte e perceba as
especificidades e as particularidades da criança. Criança essa competente,
capaz e ávida para descobrir o mundo.
A partir de minhas observações em relação à postura dos adultos, o
que tenho percebido muitas vezes é a dificuldade deles estarem presentes,

atentos e sem interferir ou tentar fazer pelas crianças, respeitando o tempo e
ritmo individual.
Acredito que essa dificuldade pode ser resultado de uma sociedade,
que consome uma gama enorme de informações numa velocidade muito
grande, que acaba dando ao tempo uma outra dimensão. A facilidade no
acesso às informações bem como tecnologias que permitem otimizar o
tempo, realizar várias tarefas simultaneamente, ditando um novo ritmo.
Por que algumas vezes pode ser tão difícil enxergamos o bebê como
ele se mostra?
Penso que a vida moderna tende a nos impulsionar a realizar muitas
atividades ao mesmo tempo, consumimos muita informação, imprimindo um
ritmo acelerado e dificultando vivermos o presente. Estamos geralmente
realizando tarefas e concomitantemente pensando no que está por vir.
Meu convite é darmos esse espaço, tempo e esperar:
Esperar antes de interromper uma atividade, dar a oportunidade às
crianças continuarem o que estão fazendo, construindo um pensamento.
Esperar para que a criança tenha a chance de resolver um problema,
mas sem abandoná-las;
Esperar pela descoberta da criança. Quando você ensina para criança
algo, você tira para sempre a chance dela descobrir sozinha” Jean Piaget
Esperar e observar o que a criança está fazendo antes de tirar
conclusões.
Esperar antes de intervir num conflito entre bebês, muitas vezes o
conflito pode ser resolvido entre eles.
Esperar para que eles consigam expressar seus sentimentos, ainda
que para muitos adultos seja difícil ver seu filho chorar ou expressar
sentimentos como impaciência, raiva, medo.
Aclamar… o tempo do bebê!

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