A TÃO FALADA AUTONOMIA

Dar espaço e tempo à criança, segundo vários autores relaciona-se à forma de olhar e enxergar a criança. Como eu vejo a criança? Qual é a concepção de bebê que prevalece em nossa época? Esses aspectos irão nortear a postura dos pais nos momentos de interação com seu filho. Se enxergam o bebê como um sujeito passivo, sem iniciativas e incapaz, que precisa ser constantemente estimulado para se desenvolver e descobrir o mundo, é mais provável que o tempo do adulto, que é diferente do tempo do bebê, se imponha resultando num compasso mais acelerado.

Conforme discutido por Truchis-Leneveu (1998, p. 27), a qual por sua vez fundamenta-se na abordagem de Pikler Lóczy, a observação é um elemento primordial e, auxilia no entendimento e, por consequência, na produção de melhores respostas às necessidades da criança.

O instituto Lóczy, onde se originou a abordagem Pikler Lóczy foi fundado em 1946, sendo uma instituição de acolhimento de crianças órfãs de Budapeste. Sua fundadora, Emmi Pikler, pediatra, fez seus estudos em Viena nos anos 20 e detentora de ideias progressistas, acreditava que a saúde somática e psíquica seriam indissociáveis, ainda que o termo “psicossomático”, tenha sido definido 30 anos depois, pela OMS (Organização Mundial de Saúde).

Confiar na criança, que já nasce potente, capaz de realizar, propicia aos adultos a chance da criança não mais ter que corresponder às normas, sejam dos médicos, da família, mas dar possibilidade de desenvolver sua própria originalidade. Metas muitas vezes são estabelecidas por profissionais da saúde, da educação, familiares mas não levam em conta as particularidades e especificidades do sujeito, se atendo a gráficos, tabelas e muitas vezes até mesmo ao senso comum.

Continua o autor afirmando que nessas condições as crianças se sentem mais confiantes, menos dependentes do adulto. Adulto, que de algum modo, se torna colaborador da criança no seu trabalho de descoberta e de construção de si mesma. A criança é o sujeito, o ser ativo, se permitirem que ela o seja. Atitude, essa mais “leve”, mas não com menor grau de responsabilidade.

E ainda, que é um desafio para o adulto se segurar e não fazer pela criança. Quem não terá o ímpeto de ajudar uma criança pequena a descer do sofá ou até desembrulhar rapidamente um presente que a criança ganhou e que, provavelmente, no seu ritmo talvez levasse mais tempo explorando o papel, sua textura, seu som até chegar ao presente.

E, assim, o adulto pode dar mais espaço à criança, é como se ele fosse se retirando “na ponta dos pés” à medida que a criança caminha em direção à autonomia.

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